domingo, 2 de dezembro de 2007

Entregues



Tive um amigo chamado Alexander. Hoje procuro evita-lo, mas isso passa a ser outra história. Como disse, seu nome era Alexander e um dia em sua casa ele reclamava da ignorância do povo brasileiro, que não conseguia pronunciar o seu nome de maneira correta. Originalmente o nome dele teria que ser dito: - Alequesander.

Fiquei contra essa idéia, achei plausível que o tal nome pudesse ser pronunciado como era escrito e lido aqui no Brasil.

Achei que estivesse sendo ignorante, porém de alguma forma patriota.

Hoje, pensando nisso, vejo que em qualquer país no exterior, se pronunciam os nomes estrangeiros de modo “errado”. Eles não se submetem à cultura alheia. Um cidadão francês, por exemplo, ao invés de pronunciar “Kenedy”, fala “Kenedí”.

Porque nós brasileiros não podemos agir assim também?

Porque teríamos que adaptar nossa língua à extrangeira?

Mao Zedong, Dirigente revolucionário e pensador chinês no inicio do século XX, falava com a presença de um tradutor com outros lideres de estado, mesmo sabendo falar fluentemente os idiomas locais.

Isso é um exemplo de como o brasileiro se perde e se perdeu em seus traços culturais, e acaba sendo brasileiro apenas em jogos de futebol. Não vou dizer que amo meu país, mas não posso deixar de reconhecer minhas origens. Nasci, como muitos, em um país desigual, preconceituoso, atrasado e nitidamente reacionário. Mas não é por isso que eu não faço parte dele. Eu penso em português, eu falo brasileiro, eu nasci nesse território, eu respiro esse oxigênio e vivo até hoje com vista para esse sol e para toda essa gente que mora aqui e divide o espaço comigo. Vergonha é algo que não sinto, reconheço as falhas da minha nação e não é por isso que tenho que ficar inerte a elas.

Inércia a qual esse povo se submete, povo esse sem respeito próprio, sem confiança, sem esperança, e totalmente diminuído do que ele realmente é. Assim, ele é fácil de ser domesticado e abusado. A hora do chega está demorando muito, e não sei se virá.

As camadas populares são muito mal tratadas no Brasil, se sentem diminuídas e incapazes. Convencê-las disso é uma tarefa árdua que levou 500 anos, feito em todo seu processo de formação.

Agora talvez não sejamos muito, mas se podemos ser, porque não fazemos diferente?

Porque não vamos às ruas, aos debates, aos piquetes e desconstruímos essa desigualdade, esse sistema podre, e toda essa corja que o tenta defender. Porque não recuperamos nossa auto-confiança e vamos pra luta?

Não é hora? Quando vai ser?

“Quem sabe faz a hora, não espera acontecer” (Geraldo Vandré.)

por Pedro Parente

2 comentários:

Unknown disse...

Interessante... ja desabafou, criticou, exclamou, ta mais calmo agora? =p

Mestre dos Magos disse...

Concordo com você em relação à língua e, apesar de ser algo relativamente pessoal (eu por exemplo falo inglês, por isso pronuncio palavras em inglês da maneira correta e não me sinto menos brasileiro por isso), você tem toda razão. Não apenas em relação aos chefes de Estado, que tem mesmo é falar sua língua materna e os outros que traduzam, mas principalmente aos jovens de hoje em dia (e admito que já fui assim) que acham "cool" estampar frases em inglês por aí, ou "blasé" caso a frase esteja em francês, ou a palavra correspondente em relação ao alemão, que está entrando na moda.

E mais, as camadas populares não se sentem diminuídas e incapazes. Elas se sentem esperançosas (como tenho a impressão de que sempre o foram) por que hoje recebem uns 100 reais a mais e por isso comem carne quase todo dia. O difícil é fazê-las ver que não está tudo bem, que elas pagam bem mais do que deveriam pra receber muito menos do que merecem, faazê-las perceberem que esses 100 reais a mais deveriam ser muito mais que 100 reais, e vindos de seu esforço próprio.
Esse país sempre foi 10% do que poderia ser e não sei se isso não tira sua calma Luiz Fernando, mas a minha só volta enquanto eu to assistindo novela.

Daniel Fosco